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"Amo minha mulher, mas quase não transo, porque ela não quer. O que faço?"

Karin Hueck

08/11/2019 04h00

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Minha mulher não quer transar comigo, nem fazer terapia

"Sou casado há 10 anos e tenho um filho de 3 anos. Temos ambos trinta e tantos anos. Eu a amo, e queria muito ter uma vida íntima saudável com ela. Mas ela não acredita que merece ser desejada e não deixa eu me aproximar. Não rola abraço, beijo só selinho, amasso então, nem pensar. Quando rola algum sexo (o que é raro) fico com a sensação que acontece apenas por mim, para atender uma necessidade minha, e não por que ela realmente quer, apesar de ela dizer que gosta quando fazemos. Nós ganhamos algum peso depois de nos casarmos, ela nunca teve o emprego que desejava, nunca esteve em uma fase realmente boa. Quando pergunto o que está acontecendo ela responde que tudo o que ela sente na vida é frustração. E sinto que ela só se permitirá ser livre quando se sentir bonita, em forma e tiver sucesso na vida, como se só pessoas assim tivessem permissão para aproveitar a vida. O que mais vejo é ela assistindo Youtubers ou Instagramers com esse perfil dos sonhos. Sugeri que fizéssemos alguma terapia, individualmente ou de casal, mas ela não aceitou a ideia. Quando procuro na internet sobre o assunto o que mais vejo são sugestões de abrir o relacionamento, o que está fora de cogitação, Nem eu, nem ela iriamos querer isso. Eu a amo e realmente não me vejo fazendo nada que coloque nosso relacionamento em risco. O que faço? Só vejo como opção esperar…" Ass.: Casamento Celibatário.


 Caro celibatário,
Esperar não vai resolver a sua situação. É muito difícil que uma solução caia do céu, ou que vocês ganhem na loteria, ou que ela descubra o que quer fazer da vida assistindo a stories do Instagram. Uma solução vai exigir um pouco de trabalho da parte de vocês. O diagnóstico que você fez da sua esposa me parece correto e, infelizmente, terapia (para ela ou para o casal) não é mais opcional e ultrapassou a barreira da urgência. Chame-a para uma conversa, não deixe o assunto aparecer apenas no meio de uma discussão. Marque uma hora na agenda, se for necessário, para ela entender que o assunto é sério. E diga o que você me disse: "Maria Lúcia, eu estou muito infeliz no casamento. Eu te amo e tudo que quero é ficarmos bem. Mas vamos ter que arrumar algumas coisas aqui. Quer fazer terapia comigo? Ou prefere que a gente faça separadamente? Não me vejo ficando feliz do jeito que as coisas estão." Aí é ver o que ela responde.

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Ele odeia conterrâneos

Moro no Brasil, porém detesto, ou melhor, tenho ojeriza de homem brasileiro para sexo e/ou relacionamento. A maioria dos homens brasileiros não tem educação de base, se acham a última taça de Cristal safra 1992 gelada no meio do deserto. Não usam instinto nem intuição no sexo, e nem tem ideia do que seja espontaneidade durante uma relação sexual. Não tenho o estereótipo do brasileiro (pele mais escura, cabelos e olhos escuros, estatura mediana, ginga no samba etc.), e estrangeiros aqui no Brasil não se interessam por meu tipo físico. Aos cinquenta anos também já não tenho mais vontade de morar fora (já o fiz quando tinha vinte). Relacionamento com homem brasileiro é praticamente impossível porque a esmagadora maioria enrola e mente em demasia. Sempre tem a mãe, a tia, a prima para buscar ou levar ao aeroporto, são obrigados a passar Natal com a família ou almoçar todos os domingos com eles. Quando há religiosidade envolvida, então… melhor nem comentar. Tudo isso é muito cansativo. Não quero ser pai, provedor, irmão mais velho, psicólogo, professor, cozinheiro, motorista etc. de nenhum homem, porém os brasileiros, no geral, esperam isso. Com muitos estrangeiros a coisa é tão diferente… todavia não quero morar mais fora do Brasil, então qual seria seu conselho? Não vale: virar heterossexual, mudar de qualquer maneira para o Exterior, importar um gringo, fazer macumba. Agradeço antecipadamente.
Ass.: Louco Por Gringo

Caro louco por gringo,
Agradeço pela sua carta porque recebo muitos comentários dizendo que eu invento as coisas que publico aqui – e quisera eu ter uma imaginação capaz de inventar um problema desses. Fico pensando também se você se atrai igualmente por qualquer estrangeiro — dos bávaros aos quenianos, dos canadenses aos indianos — e, se não, o que será que isso quer dizer. Levando em conta que você já me falou quais conselhos eu posso dar ou não, só me resta uma única dica: em vez de achar que o problema está em todos os homens nascidos em território brasileiro, que tal considerar que o problema talvez esteja em você? Estatisticamente faz mais sentido. Lembre-se que você também é aquilo que você mais odeia: um homem brasileiro. Terapia não faria mal.

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Sobre a Autora

Karin Hueck é jornalista e escritora. Foi editora da revista "Superinteressante", colaborou para alguns dos maiores veículos do Brasil e tem 5 livros publicados.

Sobre o Blog

Se Conselho Fosse Bom é uma coluna de conselhos sentimentais, existenciais e práticos. Está com problemas no trabalho? Sua família te enlouquece? Não sabe se casa ou compra uma bicicleta? Mande as suas dúvidas para o se.conselho.fosse.bom@bol.com.br As respostas são 100% anônimas.